Os Idiotas

Por vezes fico a pensar nas atitudes dos alunos em sala de aula e concluo, do alto da minha sapiência: “Bolas, esta gente é toda idiota!”. A palavra em si remete-nos para a um significado que não abona muito em favor de quem é “rotulado”. No entanto, passados cerca de dois meses, este comportamento “errante”, por parte dos alunos e alunas, manteve-se e, em certos casos, até se agravou. Nesse momento resolvi reflectir sobre a minha opinião inicial, alterando a minha questão para “O que leva esta gente a ter este comportamento?”. Comecei então a questionar a minha maneira de leccionar: Será que as minhas aulas eram tão “seca” que os alunos e alunas sentiam necessidade de ter este comportamento para “descomprimir”?

Pegando nesta questão, que para mim foi motivadora, envidei esforços, de modo a tornar as minhas aulas mais apelativas, procurando actividades experimentais novas, recorrendo a apresentações informáticas e vídeos explicativos da matéria a leccionar mais apelativos e tendo um relacionamento de maior proximidade com os alunos e alunas. Passado cerca de um mês, analisei o comportamento dos alunos e alunas que compunham as minhas turmas e, para minha desilusão, este não tinha tido melhorias significativas. O dilema começou a adensar-se na minha cabeça: “Mas afinal o que os faz ser assim… idiotas!”. 

Resolvi, então, procurar outros factores, extra aulas, que me pudessem ajudar a entender esta minha dúvida. Primeiramente analisei os gostos deles e delas sobre os mais variados temas, a saber, música, cinema, televisão, arte, desporto, etc. Concluí então que a grande maioria só gosta de “reality shows” de filmes de humor “nonsense” e de um tipo de música que eu classifico como “lixo genético”. Quando falava de desporto, só sabiam falar (e mal) sobre futebol e quanto às artes, o que encontrei foram “bolas redondas”, ou seja, zeros. 

Como professor fiquei… apreensivo quanto ao futuro, pois concluí que esta gente só gosta daquilo que não presta e consome todas essas coisas imprestáveis em largas quantidades.

No entanto isto foi uma ajuda para explicar o porquê de alguns comportamentos e atitudes por mim classificadas como idiotas: Estes “nabos” limitavam-se a copiar os comportamentos observados nesses programas ou filmes, para a vida real. Parti então para a parte final do meu estudo, o ambiente familiar, com o propósito de tentar compreender o porquê da necessidade de copiar comportamentos desajustados à realidade. Será que o ambiente familiar era assim tão mau?! Após conversar com alguns encarregados de educação fiquei com mais algumas certezas acerca dos motivos que levavam os alunos e alunas a ter estes comportamentos. A grande maioria destes pais têm uma baixa escolaridade, o que apenas lhes permite visualizar e ouvir algo que possa ser rapidamente entendível. Logo estes são os primeiros e principais consumidores destes produtos que por mim são classificados como “lixo”. O problema é que eles passam esse “lixo” para as crianças e adolescentes, pois como é obvio, se é aquilo que os pais assistem, também a sua descendência assiste, pois isso como sabemos, faz parte do processo educacional com que todos estamos formatados: Se é bom para mim, também o será para a minha descendência. Já estamos a constatar que, para introduzir algo de novo e rico em termos culturais, ou é feito com imensa insistência por parte de quem o faz, ou então cai em “saco vazio”, devido à falta de continuidade existente entre a escola e o ambiente familiar. 

Assim consegui postular esta minha conclusão: Não existem idiotas. O que existe é uma evidente descontinuidade entre a escola e o ambiente escolar. Por alguma razão estes se incompatibilizam e conflitualizam, levando os alunos e alunas a ter estas atitudes “parvas e Idiotas”. Sou da opinião que este comportamento não será mais do que uma chamada de atenção das crianças e adolescentes para nós professores e para a respectiva família, no intuito de nós nos entendermos para que em conjunto possamos trabalhar, efectivamente, em prol das crianças e adolescentes e não a fazer de conta, que é o que muitas vezes se faz, sendo que, os resultados dessa fábula estão à vista de todos.

Acordem!

Publicado em: 
Segunda, 31 Outubro, 2011

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